Ontem Esquiva Falcão chegou ao Brasil, com a medalha de
prata das Olimpíadas na bagagem. O pugilista capixaba alcançou o posto de
melhor boxeador olímpico brasileiro de todos os tempos, o primeiro (e até agora
único) pugilista a chegar numa final Olímpica.
Nascido no Espírito Santo, Esquiva vem de uma família de
lutadores, e foi seu pai, o lendário Touro Moreno, quem o introduziu no Boxe.
Se foi o pai biológico quem lhe apresentou o esporte, foram os pais do Boxe quem o
ensinaram a arte de lutar: o carioca Raff Giglio e a família Oliveira: Gabriel, Pitú e
Servílio.
Dos sete boxeadores homens que compuzeram a equipe Olímpica em Londres, Esquiva era um dos
poucos que estavam eu sua primeira edição de Jogos Olímpicos, assim como seu
irmão Yamaguchi e o peso mosca Julião.
Com 22 anos, Esquiva era um dos mais inexperientes do time,
já que não participara de campeonatos mundiais de categorias de base (como
Yamaguchi e Everton), não havia lutado mundiais antes de 2011 (como Robson,
Myke), e estava em sua primeira Olímpíada.
Em janeiro de 2009, na casa dos ateltas da seleção em Santo André, Esquiva me contou: "O dia
em que eu for para uma olímpíada eu trago medalha de qualquer jeito. Nem se
precisar dar um pombo pra nocautear, mas eu trago medalha". Nesse dia
Esquiva tinha 19 anos, tinha acabado de chegar na seleção Brasileira, era
reserva na categoria até 69 kg, mas já tinha seu objetivo traçado.
A medalha olímpica de Esquiva começou a despontar ainda em
2011, na sua brilhante campanha no campeonato mundial de Baku, Azerbaijão. Em
sua primeira grande competição de proporções planetárias, Esquiva acumulou
vitórias sobre Senegal, Austrália, Inglaterra e Kazaquistão, para ser superado
na semi-final pelo Japão e ficar com o histórico Bronze da categoria até 75 kg.
Como o brasileiro foi um dos 4 melhores do planeta, nos Jogos
Olímpicos ficou como cabeça-de-chave e foi favorecido no sorteio, ficando de bye na primeira rodada.
Já em Londres, sua primeira luta foi uma das quais mais
trouxe preocupação, já que enfrentou Soltan Migitinov, do Azerbaijão, país com
tradição no Boxe. Entretanto, no primeiro minuto de luta já deu para perceber
que Esquiva veio com fome de medalha. 24
a 11 para o Brasil. Seu segundo combate já valia medalha de bronze, e enfrentou
Zoltan Harcsa, da Hungria. Esquiva venceu por 14 a 10, classificou-se para a
semi-final e garantiu sua medalha olímpica, igualando-se a Servílio de Oliveira em 1968. Mas o bronze ainda não era o
suficiente para Falcão.
Na semi-final, Esquiva enfrentou Anthony Ogogo, pugilista
britânico a quem venceu no Mundial de 2011. Ogogo havia dado declarações que
estava próximo de sua redenção, que superaria seu algoz perante o público de 7 mil britânicos que estavam na Excel Arena, em Londres, e faria sua vingança. Mas os planos de Ogogo esbarraram
na técnica, velocidade e inteligência de Esquiva. Após um primeiro round tenso,
com empate em 3 a 3, a luta manteve-se equilibrada até a metadel do segundo round. A
menos de 30 segundos para o fim do segundo assalto Esquiva decidiu atacar e
com uma sequência perfeita de golpes abriu vantagem de de 3 pontos, iniciando
o último tempo vencendo por 9 a 6.
Ogogo sabia que tinha que virar a luta, e por isso veio pra
cima de Esquiva assim que bateu o gongo. Mas um lindo direto de encontro do
brasileiro mandou o inglês de bunda na lona do ringue olímpico, fato raro de
ser visto em uma semi-final Olímpica. Neste momento, Ogogo já estava derrotado
moralmente. Esquiva continuou pressioando, abriu mais uma contagem e esteve perto
de vencer a luta por RSC (Referee Stop Combat), o antigo Nocaute técnico. 16 a 9 como resultado final da luta, fora o
baile de Esquiva. Com certeza, esta foi a melhor luta de um brasleiro nestes
Jogos Olímpicos e, junto com a vitória de Yamaguchi sobre Cuba, a que mais fez o
torcedor brasileiro vibrar!
Com
esta vitória Esquiva ganhou ainda mais moral para a final, que aconteceu no dia
seguinte, sem descanso para o Brasileiro. Pela frente ele teria Ryota Murata,
do Japão, que o vencera no Mundial de Baku. Esquiva declarou antes da luta que já tinha a
tática certa para vencer o japonês retranqueiro. No primeiro round Esquiva decidiu lutar como seu rival: na curta distância, bloqueando bastante e
contragolpeando. Porém, Murata conseguiu encaixar golpes mais claros, como seus
cruzados de direita, e venceu o round por 5 a 3. A partir do segundo round
Esquiva começou a boxear, bater e andar, como o todos que admiram o”
Boxe-ciência” gostam. Venceu o round por um ponto de diferença e entrou para
o último round atrás um ponto no placar: 9 a 8 para o Japão. A luta estava truncada, com
ambos boxeadores se agarrando e cometendo faltas, muito tensa. O juiz polonês
que mediava o combate decidiu punir Esquiva pelos clinchs no começo do
último round, ignorando que Murata também cometia esta falta, além de bater na nuca e ter soltado alguns golpes abaixo da linha da cintura. Se Esquiva estava um ponto atrás no placar, agora estaria três.
O brasileiro continuou a procurar mais o combate, evitando a curta distância e
os golpes de curvos de Murata. Ao final do round, a certeza de que Esquiva fora
superior, mas a dúvida se sua superioridada fora suficiente para virar o
placar da luta.
O medo
era de que a falta apontada para Esquiva desse a vitória para o japonês, já que apesar de ter se mantido melhor no ultimo round, com a falta Esquiva ficou 3 pontos atrás no placar. E no resultado oficial, confirmou-se o que todos temiam: Esquiva perdeu por 13 a 14, por apenas um ponto, aquele ponto que o juiz decidiu tirar apenas do brasileiro e deixou o japonês impune. Por um mínimo detalhe, um mínimo deslize, a medalha de ouro não veio para o Brasil.
Se nas outras edições de Jogos Olímpicos a medalha batia na trave, desta vez o que bateu na trave foi o Ouro, que por quase um acaso do destino não veio para o Brasil. A prata ao invés do ouro pode ser interpretado como um aviso: "Calma, o Boxe no Brasil está evoluindo, foram 3 medalhas nesta Olímpíadas, mas ainda não é hora do ouro".
A medalha de Esquiva colocou o Boxe do Brasil no lugar que ele deveria estar já faz tempo. Esquiva levou consigo no pódio olímpico centenas de boxeadores taltentosos que o país produziu mas que não tiveram a mesma sorte, subiram junto com Esquiva gerações inteiras de boxeadores e treinadores que aguardaram por quatro décadas a quebra deste tabu. Junto com Esquiva subiram Servílio de Oliveira, Newton Campos, Eder Jofre, Acelino Freitas, Miguel de Oliveira, todo boxeador que um dia já pleiteiou uma medalha olímpica, cada lutador que não teve esta chance, todos treinadores que um dia já sonharam com a medalha olímpica, os que ainda estão conosco, os que já se foram, os que ainda estão por vir, eu, você .
Se Servílio de Oliveira se emocionou ao ver seu récorde quebrado, Antonio Carollo abençoou de algum lugar o jovem de origem humilde alcançar uma medalha olímpica, assim com fez seu pupilo em 1968.
Se Servílio de Oliveira se emocionou ao ver seu récorde quebrado, Antonio Carollo abençoou de algum lugar o jovem de origem humilde alcançar uma medalha olímpica, assim com fez seu pupilo em 1968.
Esta medalha entra para a História do Boxe nacional.
Que esta medalha abra os caminhos para o Boxe nacional.
Breno Macedo
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